Ela costumava gostar de se perder. Saía de madrugada e abandonava paixões fantasiosas sem se importar. Não se sentia mal nem olhava para trás. Partia em direção ao nada com a voracidade de quem quer alcançar a terra prometida. Ela só sabia fazer isso, mudar. Se mudar. Era tão instintivo quanto dormir, se alimentar, respirar. Ia a boates e encontrava alguma alma perdida que lhe anestesiasse por algumas horas daquela dor que sentia por ser quem era. Então poderia dormir. E mesmo que aquilo não preenchesse o vazio, parecia que adormecia a fome que ela sentia de ser completa. E ela acabava sempre se deixando levar por essa vontade de partir. Pegava apenas suas roupas, e enquanto o sol nascia, descia as escadas do quarto de hotel de beira de estrada, andava pela calçada decidida a encontrar algo mais interessante na próxima cidade. Em suas aventuras, sempre deixava sua marca em quem conhecia. Nunca percebido, que sua busca por coisas que a prendessem e fizessem com que criasse raiz era inútil. Ela não sabia ficar.
Um dia, alguém apaixonado, deitado a seu lado, esforçando-se para manter-se acordado e não perdê-la de vista, disse enquanto as pálpebras pesadas repousavam, apesar do esforço:
- Antes de partir, antes de levantar dessa cama e ir embora, saiba que basta você querer e eu posso ser quem vai te fazer ficar. É só me escolher. É só ficar, eu prometo ficar, e prometo nunca te prender.Ele caiu no sono, forçando-se a acreditar que ela era um sonho. E ao acordar, não queria abrir os olhos, até sentir uma respiração morna por detrás de sua orelha. Ali estava ela, pela primeira vez, amanhecendo ao lado de alguém.
E ela ficou.
Isabela Moraes
05/06/2011
05/06/2011
"She found no love in this town
So she'd never mess around
Had no luck, but aint it strange
The girl knew how to chop and change"
The Black Keys - Chop and Change
