quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quarta-feira

Até a quarta-feira chuvosa
Se deixa ensolarar
Enquanto ouço sua prosa
E fotografo seu olhar


Isabela Moraes
17/03/2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Gente


Os bichos se devoram no escuro, entre quatro paredes sem janela sem porta e sem saída, com fome de amor. Gente não entende que bicho não quer calar a vontade, bicho quer fazer gritar. Bicho quer amar. Bicho não nega amor a outro bicho. Bicho acredita em coisa de pele. E não leva sentimentos a sério, porque não leva na brincadeira. Bicho é instinto. Bichos que agora rolam no chão, e parecem um só, vivendo uma emoção que gente nunca vai conseguir sentir.
Vem cá. Deixa eu ser seu bicho. Esqueça que a gente é gente. Deixa tuas pegadas pelo chão e eu vou até você, pra gente ser bicho de novo. Bicho que ama, que foge acuado, que chora. Bicho teu.

Isabela Moraes
24/05/2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Te buscar

Vá lá buscar o seu amor
e volte aqui pra me dizer
se te fez feliz.

Porque meus braços não vão conseguir
ficar vazios te vendo ir,
pior ainda se você sofrer
não vou poder evitar amar você
e vou querer te trazer aqui
e nunca mais te deixar sair.

Isabela Moraes
17/04/2010

Aos pais


Não posso falar e não posso esconder por muito tempo. Às vezes fico confusa, às vezes sei exatamente o que quero. Ouvir aquelas palavras me assusta e me magoa. Não vejo muito a fazer a respeito. Há poucas maneiras de mudar a opinião dos outros. Nem consigo pensar na reação deles diante da verdade. Talvez fiquem tão assustados quanto eu. Talvez não entendam. Quase com certeza julgarão, com seus próprios critérios, com seus pontos de vista, suas regras, suas leis, seus costumes. Repetirão a frase que outrora ouvi, quando sem perceber, comecei isso tudo. Se arrependerão de perguntar, pois a resposta será como um cuspe na cara, rápido e cruel. Pra mim tanto faz. Quem pergunta quer saber, e responder ou não, não muda a verdade. Perguntarão quem é culpado. Tentarão concluir as conversas. Tentarão desconversar, me fazer mudar de idéia. Apontarão meu erro, apontarão o dedo. Esquecerão de apontar o caminho. Lembrarão de momentos, que na verdade, nem foram tão importantes, mas que interpretarão como um sinal. Levantarão as mãos aos céus, perguntarão por quê. Passarão noites em claro. Estarão desperdiçando tempo, gastando saliva e cansando à toa. O que podiam fazer por mim, fizeram. Só não viram a tempo o que estava acontecendo. Não pouparam minhas dúvidas das suas opiniões cruéis. Não adequaram os seus planos às mudanças que eu quisesse fazer. Só se decepcionam os que esperam que os outros sejam iguais a si próprio.
É uma situação diferente. A filha vai ensinar aos pais.

Isabela Moraes
21/02/2010

domingo, 16 de maio de 2010

Nudez maquiada


Vim pela estrada encarando minha imagem no espelho. Me perguntando quem era a garota que agora eu refletia, e o que eu veria ao voltar pra casa. Talvez um olhar menos esperançoso, ou menos alegre. Eu sou algo que eu não sei identificar. E não sei qual imagem é a mais real. Ás vezes minhas mentiras se escondem da luz do dia, mas é mais comum que minhas verdades se dispam diante do escuro brilho da lua. Sob a pressão do cotidiano, não raramente, me sinto obrigada a inventar um personagem para dar vida à minha inércia. E o cansaço, quase sempre, me arranca todo e qualquer artifício. Então, no fim do dia eu sou algo que sobra da nudez, agora coberta por vergonha dos olhares de repreenssão, e da maquiagem borrada, que saiu durante o dia, deixando à mostra algumas coisas que devia esconder. E eu sou o resto. Tudo que fica quando tudo já foi embora. A dor e a felicidade ao encostar a cabeça no travesseiro. A falta que faz alguém pra acabar com a solidão ao final dos dias.

Isabela Moraes
06/05/2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A menina dança


Depois da festa, o cheiro do seu cigarro de cereja ficou no meu cabelo, e o gosto ficou na minha boca, mas com sua ausência o doce virou amargo, tudo ficou opaco.
Depois de tudo, meu corpo deitou cansado na cama e eu fiquei lembrando, e você ficou em mim, de forma que não posso mais te por a parte. Você está dissolvida no meu sangue, ocupando cada parte do meu corpo, e em lugares tão inacessíveis e desconhecidos por mim, que não posso te tirar de lá ou me livrar de você. Fechava os olhos e podia sentir suas mãos quentes ao meus redor, mas ao abrir-los elas não estavam aqui.
A falta do seu sorriso faz da noite um momento apenas escuro e vazio, sem nada que possa me fazer dançar. Quando você não dança, minha música para, minha bebida perde o gosto e eu acabo voltando pra solidão do meu quarto. E posso ver você dançando no teto, e tudo ao seu redor dança no seu ritmo, na sua órbita, às suas ordens. E eu só vou acordar, se for pra te ver outra vez, dançando do novo, iluminando a noite pra mim.

Isabela Moraes
05/05/2010

domingo, 2 de maio de 2010

Olhos de mar

As luzes da cidade brilhavam quase tanto quanto teus olhos azuis fitando a Guanabara. Teu corpo era quase tão tentador quanto teus lábios rosados comprimindo-se um contra o outro. Por isso, permita-me ser indecente. Queria comprimir meus lábios contra os seus, pressionar meu corpo contra o seu. Sou uma criatura perdida. E queria perder-me em você. E percorrer algum caminho em teu corpo até, quem sabe, encontrar-me. Talvez, saiba pelo meu olhar que eu te quero tanto. Sou pateticamente transparente, esqueço de fingir que não notei você no meio dessas pessoas apressadas. Mas esqueço de esquecer a timidez e não falo nada. Fico esperando que meu olhar fale por mim. E enquanto você reclama do vento frio, eu fico imaginando o quão simples seria te aquecer. Mas é difícil que isso aconteça. Você nem percebeu. Não se deu conta de mim. Mas ainda faço-te notar-me à beira desse mar, se o acaso outra vez ajudar.

Isabela Moraes
30/04/2010

vou viajar de barca só pra te encontrar.

Bobo da Corte


Agora, que eu sou o bobo da corte, fazendo graça pra que você me veja e perceba o meu amor, estou vulnerável a toda e qualquer zombaria. Mas não espero isso de você. Não ria de mim, não zombe ou deboche das piadas que faço. Estou sem graça, estou desgraçada. Estou rindo do que me faz chorar, sem um motivo plausível, a não ser colocar um sorriso no seu rosto. Pois não acho graça do que estou rindo, acho graça de mim. Que me fiz de palhaça, e me fiz de escrava e agora, jogada a seus pés, só quero te ver feliz e poder fazer parte da sua felicidade. Estou rindo do meu papel ridículo.
Mas tanto faz, você já riu e com seu brilho ofuscou o meu amor. Apagou, aos poucos tudo que eu tentei manter aceso. O fogo, a luz, o brilho intenso que me cegava. E aí, eu vi. Há muito tempo já devia ter parado de tentar fazer graça e começado a tentar ser feliz.

Isabela Moraes
20/04/2010

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou c...