terça-feira, 30 de novembro de 2010

Na penumbra

Eis me aqui. Outro novembro com suas dores e sentimentos dilacerados. Nada resiste a estes temporais primaveris, mas  nada morre, nada finda. Perdura no ar uma sensação de angústia, melancolia. Me jogo moribunda na cama outra vez  para admirar o teto e suas rachaduras abstratas. Na minha inquietude, leio um livro, escrevo, entristeço com uma  canção, me viro nos lençóis, eu não vou dormir. Se dormir, não vou sonhar, não vou descansar. Mal consigo pensar. O  meu passado vem como uma sombra se arrastando, dissimulando e devorando o presente. Sabotando o que tento  construir para um futuro que finjo existir. Pergunto ao travesseiro o que será de nós quando chegarmos aonde  queremos. Diz a canção: There were ghosts in the eyes of all the boys you sent away, e o fantasma sou eu. Eu mesma  me assombro e faço questão de dar fim ao que comecei usando a desculpa de fugir do fracasso. Neste mês  especialmente, faço questão de fugir de mim mesma, me perder a cada esquina, voltar chorando para casa, correr até as  pernas ficarem bambas e eu tropeçar sobre mim mesma. Caio sobre meus erros, esfolo meu corpo inteiro e me assisto  sangrar como quem vê um rio que corre. A dramaturgia aflora em novembro e eu a visto de ironia. O romantismo se  torna gótico e sombrio. E na sombra me escondo. E sonho admirando um feixe de luz que transpassa a cortina. Queria  ser minha e então poder ser de alguém. O prisma reflete toda a confusão. O trapézio balança eternamente. Quanto  mais tento me equilibrar mais perco o equilíbrio. Ainda não estou sob a luz.

Isabela Moraes
21/11/10

'Cause nothing lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold november rain
(...)
So nevermind the darkness
We still can find a way
'Cause nothing lasts forever
Even cold november rain

    November Rain - Guns N' Roses

sábado, 27 de novembro de 2010

Tédio

Me incomoda, me inquieta profundamente ter que olhar todos os dias pra essas mesmas paredes em tons pastéis. Quero sair e tocar tudo que abandonei ao aceitar as correntes daquela prisão. Não quero abandonar mais nada. Muito menos esses meus desejos recentes. Tenho desejado o mundo e mais algumas estradas. Quero ver qualquer coisa. Cansar minhas pernas e ter motivo para me deitar na cama e desmaiar sonolenta até a manhã seguinte. Me cansa essa vida monótona. Não que não goste de sossego. Mas é chato perambular pela casa o dia inteiro feito uma assombração. E me sinto sozinha. Sou a única nesses cômodos enjoativos. Tédio é algo muito poderoso. Capaz de destruir até as mentes mais equilibradas. Não que a minha seja...

Isabela Moraes
26/11/2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Solução

Engoli tudo de uma vez, como se a vida (ou a morte) fosse uma bebida de gosto amargo e efeito de torpor. E nesse torpor senti descer pela minha garganta, queimando, os meus erros, e por pouco meu medo não me fez vomitar aquela última dose de sentimentos. Pude sentir aos poucos o remédio fazer efeito. Pés e pernas adormecidos, o corpo fraco colou-se ao chão. As mãos, ainda teimosas, insistiam em tocar uma última vez alguma coisa que lembrasse o amor que senti. O coração batia fraco. E o calor que sentira há pouco, se transformou em um calafrio que me percorreu inteira e me fez sentir um grande deserto. Por alguns segundos, o coração acelerou. E pude sentir parar repentinamente. Derramei minha última lágrima. Eis o que sobra de um ser humano. Eis meu testamento.

    “ Deixe meu corpo frio, inerte e vazio. Não deixe nada nele. Arranque tudo que este carregou um dia, pois sua única carga deverá ser ele mesmo. Deixe que a carne se desfaça sob a terra, para alimentar a vida sobre ela. Fazendo o novo florescer, como apodrecimento do velho. Ou deixe que o pó ao qual retornarei repouse na superfície do mar, indo descansar em alguma profundeza escura e silenciosa, ou seguindo a correnteza em direção a algum lugar onde tudo descansa.
    Deixe aos filhos que não tive minhas muitas palavras inúteis. E aos amores que senti, meus sonhos em vão. Deixe aos corações que parti meu coração parado. Deixe meu nome escrito em alguma árvore, meu rosto estampado em algum muro. Entregue a quem me amou alguma foto que me retrate da maneira como este se lembra de mim. Que todos possam perdoar minha covarde coragem de me entregar. Deixe agora que eu faça o que em vida jamais consegui. Calar.

Isabela Moraes
14/08/10

terça-feira, 23 de novembro de 2010

et elle est toujours si seul

Sei muito bem que sou eu mesma que crio meus problemas. Sei que eu afasto a felicidade de perto de mim como se ela fosse um cão sarnento. Sou meio mulher-bomba. Na tentativa de destruir o que me atormenta, me destruo junto. O importante é saber que a solidão é subestimada. Mas ela é simples e tranquila, apesar de incompleta. E até os que não me conhecem a reconhecem em mim.

"não existe homem que aguente minhas neuras. estou ciente disso. e não acredito em felicidade a dois. a felicidade está em cada um. o amor é saber conciliar a felicidade dos dois."
"sou meu próprio inimigo, meu próprio diabo, minha vilã, minha traidora. eu me saboto. não preciso de ninguém para me destruir. sou auto-destrutiva"
*descobertas de diálogos de msn.

Isabela Moraes
23/11/2010
 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Torpor

Acenda as luzes. Seque essas lágrimas. Limpe essa maquiagem borrada. Arrume essa cama. Tome um banho. Você cheira a tristeza. E tem um gosto amargo. Vista algo decente. Aprenda a se reerguer. Finja um sorriso. Siga em frente. Force aquela segurança no seu andar. Erga a cabeça. Desenhe com seu delineador algo que te dê um ar de superioridade. Ele foi só mais um. Você sabe. Foram tantos. Afinal de contas, nem é por ele que você está chorando. Ao menos tenha a dignidade de assumir. Suas lágrimas são por quem você deixou de amar, acreditando que com ele daria certo e com aquele outro não. Vamos, escolha o próximo. Um bem bonito dessa vez. Outro ombro para fingir que dorme de madrugada. Outro ombro pra fingir que é o dele. Continue jogando. Sorte no jogo, azar no amor. Derrube todos a sua frente pra se sentir vitoriosa ao menos uma vez. Queime enquanto vê seus sentimentos consumidos pelo fogo que você mesma acendeu. Arda. Seja mulher. Encare as conseqüências. Encare seu próprio olhar no espelho. Veja o quanto está perdida. Não sabe pra onde quer ir. Nem aonde vai chegar agindo assim. Nem porque continua fazendo isso. Só continua fazendo. Se deixando levar pelo que a vida pode ser. Tire esse algodão do ouvido e talvez consiga escutar. Você precisa descobrir o que quer. Deixe suas mãos irem na direção que desejarem. Liberte-se.

Isabela Moraes
14/10/2010

domingo, 21 de novembro de 2010

Contra a parede (Deveres)

Você devia ter lido. Devia ter falado. Devia ter pedido. Perguntado. Devia ter evitado aquela decepção. Devia ter desligado o celular. Parado de tentar ligar. Devia ter ficado em casa. Não ter olhado os meus olhos mortos. Não ter deixado que eu visse o fantasma nos seus. Devia ter segurando essas lágrimas. Crescido um pouco com tudo isso. Aprendido alguma lição. Devia ter lembrado da frase que eu falei. Quem não pode com a mandinga não me tira pra dançar (ou não segura patuá). Devia ter visto de primeira a enrascada em que estava se metendo. Devia ter escutado os meus conselhos de que eu não sou flor que se cheire. Mas você quis arriscar. Pagar pra ver. E pagou caro. Com o gosto salgado das suas lágrimas. Você devia ter entendido. Ter lido nos meus olhos essa ânsia. E ter compreendido que ela não iria embora tão fácil. Ela está agora se alimentando do seu sofrimento. Você devia me deixar. Você devia parar de tentar lutar contra o que você sabe que não vai vencer. Pode ir sem medo de me magoar.  Eu sei me cuidar. E isso você ainda não aprendeu. As lágrimas secam sozinhas depois de um tempo. Você vai ver.

Isabela Moraes
14/10/2010

sábado, 20 de novembro de 2010

Saudade precoce

Seria muito mais maduro da minha parte falar certas coisas diretamente. Mas me perdoe meu bem, eu não sou tão lerda assim, sou sonsa como você. Desconfiava há muito tempo do que você só me contou há pouco. Sabia quase. Mas insistia em esperar de braços cruzados sentada naquele nosso banco que você demonstrasse de uma maneira concreta o que sente por mim. Bobagem minha. Sentimentos não são concretos. Estimulam algumas ações, geram algumas provas e coisas mais palpáveis, mas não concretizam nada. Estou te confundindo mais, não é?! Quis que você fosse o que você não é. Quis que nunca mais fosse de ninguém. Mas você vai e eu sei esperar que volte. Gosto de saber das suas histórias de fim de semana. Me desperta interesse no seu espírito fullgás. Fiquei em casa nessa sexta, meio triste, querendo estar com você. Sinto saudade também. A letra dessa canção me lembrou o que sinto por você. E notei que não haverá mais quarta-feira que nos una. Estamos por conta própria. Desde já, declaro minha saudade antecipada, ansiosa e precoce das nossas horas juntas.

Isabela Moraes
20/11/2010

"E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contra mão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada..."

Ana Carolina - Quem de nós dois

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Explicações

Eu precisei te deixar, e deixei em meu lugar zilhões de pretextos pra tentar explicar o que nem eu entendo. Talvez isso seja muito ruim, mas eu preciso seguir minhas vontades ás vezes, e ás vezes tenho vontade de partir. Quero liberdade pra me ouvir, me falar, me sentir. Quero silêncio. Quero uns dias sozinha, sentindo sua falta. E ter um bom motivo pra voltar e te abraçar, tentando cobrir os segundo de saudade. Desde já quero que fique claro, você não va entender. mas, afinal, o que importa? Sabemos que nossa incoerência é o que nos mantém juntos, apesar da distância.
Que aqui não hajam mais promessas, nem decepções, nem lágrimas. Mantenho apenas a esperança de que um dia abandonaremos nossos corações rancorosos e orgulhosos e diremos a verdade. Acredito que você vai descobrir que minhas confusões não liquidaram nosso amor. Ele ainda vai estar lá. Você sabe onde procurar.

Isabela Moraes
12/11/2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Partida

Para. Para com isso. Me deixa. Você tá me prendendo aqui. E eu já não quero mais ficar. Acho que nunca quis. É que eu tentei fugir do que eu temia e me escondi do seu lado. Sim, eu te usei. Mas você disse que me amava. Então, não amava minha falta de escrúpulos também...? Mas é parte de mim. Assim como o meu jeito dissimulado. Que eu usei para virar a mesa e te fazer sentir culpado. E você adorou. Ficou tão bem enquadrado no banco dos réus. Não minta. Você gostou de encarnar a vítima. Agora que já falei a verdade, solta as minhas mãos. Mas como assim, você acha que a gente ainda pode dar certo? Você é cego ou surdo? Sinceramente... você não viu quando tudo acabou? Não me viu dilacerando? A tortura foi demais pra mim. Eu não preciso disso. Desculpe o estrago que causei. Mas, afinal, você me deixou entrar. Eu apenas agi naturalmente.

Isabela Moraes
17/10/2010

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou c...