segunda-feira, 29 de março de 2010

Efemeridade


Tinha que ser dito antes
Isto que é tão inquietante
Tudo que em ti vejo tão charmoso
E que fez efêmero o meu gozo

Não sabes o quanto entristeço
Quando vejo que me resta tão pouco apreço
E nas rezas e ladainhas me pego
E me calo só pra não inflar teu ego

Agora o erro que deixei de cometer
Tornou-se um falso enredo pra tecer
E tudo no meu corpo que foi seu
Transformou-se no cadáver que o bicho comeu

Olhe pra frente e veja, minha querida
O quão bela ainda é esta vida
Me encontro debruçada sobre o mar
Inerte, vendo você me deixar

Mas há agora a calma da espera
Darei sozinha a volta na esfera
E de mãos dadas com o destino
Vou dando ao que é pedra um toque fino

Tantas vezes amei sem notar
A real sentença do culpado por amar
A estaca cravada no peito, rasgando
E uma ferida latejante sangrando

Acabou o sonho, o feijão, o pão
E a história penosa desse coração
Que vai, sem esperança, esvaindo-se
E de outros amores omitindo-se

Isabela Moraes
29/03/2010

O que ainda posso ter de você


Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.

Meu coração dolorido
As suas mágoas exala,
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.

Pudesse eu eternamente,
Ao lado dela, escutá-la,
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.

Minha alma, já semimorta,
Conseguira ao céu alçá-la
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala.

Machado de Assis

...e eu paro a minha vida toda pra ouvir e gravar o que ela fala.

quarta-feira, 24 de março de 2010

No meu horizonte


Acordei do sonho bom com as batidas na porta da verdade impacientemente tentando se impor. Eu insisti que era um pesadelo a mais, mas a realidade me venceu pelo cansaço. Me convenceu de que estou lutando em vão, esperando pelo que não virá, me desperdiçando, me enfraquecendo, gastando forças me mantendo firme numa resistência sem prêmio no final, apenas tentando provar pra mim mesma que não me atrasei tanto assim.
A verdade é que as lágrimas que embaçam os olhos, estão apenas tentando esconder a tristeza de um olhar vazio, sem perspectiva, um horizonte nulo.
Reconheço agora que me entreguei demais, e na falta que fiz a mim mesma, por ser sua demais, fiquei só com o vazio em minha cama. E agora que não posso mais ser sua, só tenho o vazio no meu horizonte.
Sei que rasgar os poemas, apagar as mensagens, ou evitar tudo de você, não vai arrancar você de mim. Só posso engolir o choro, calar a voz, silenciar o amor e a paixão à flor da pele, que agora congela na falta do teu calor. E continuar a viver, um dia após o outro. Te amar assim de longe. Como se visse um barco que se soltou do cais, e vai aos poucos ficando pequeno no horizonte, até sumir. Me dando tempo para me acostumar com sua partida, sem sentir demais a sua falta. E quando lembrar, ‘achar’ que sempre foi pequeno, como da última vez que o vi. Mas dentro de mim, fica a sensação de que ele afundou me levando junto, inundando tudo que antes era você.

Isabela Moraes
21/03/2010

♪ "Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal(...)
Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós(...)
Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor
Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta ao que chamo de amor"
♫ Maria Gadú, Altar Particular

sábado, 20 de março de 2010

Ali


Ali, na espera,
No canto do olho
Na voz trêmula
No abraço

Ali, onde me acostumei a ser sua
Onde esqueço o orgulho
Onde me lembro de tudo
Onde minha fraqueza me dá forças

Ali, onde tudo de que faço graça é sério
Onde o sorriso ofusca a lágrima
Onde a pausa encobre o caminho a seguir
Onde sou sua sem te ter

Ali, onde meu sol nasce e se põe
Onde tudo que começou termina
Onde o que não falo pode ser ouvido
Onde até o fim, o amor é infinito

Isabela Moraes
20/03/2010

"dei meu coração e você pôs na estante" - Rita Lee ♫ (Mutante)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Terça-feira


Até as terças-feiras mais cinzentas
Parecem florescer
Quando você aqui se senta
E eu posso disfarçar te ter

Isabela Moraes
15/03/2010

Desejo (tardio)


A silhueta inconfundível da amada
Que contra meu peito queria tê-la
O desejo continua acordado
Apesar do destino dormir pros meus apelos

O cheiro que queria aprisionar
Verdadeira prisão do meu olhar
De longe, não vê que te admiro
Quando longe, inconsciente nem respiro

Meu caminho, beirando o teu sem se encontrar
A presença que finjo não notar
Nos seus lábios o sorriso que finjo esquecer
O teu corpo, caminho que não vou percorrer

Que venha Platão responder
Do amor que me põe a sofrer
Que quanto mais foges dos meus braços
Mais quero seguir seus passos

Isabela Moraes
10/03/2010

Quieta

Estou em movimento há muito tempo,
Há muito tempo tentando parar
Indo de encontro ao que quero
Querendo descobrir o que vou encontrar

Relapsa, omissa, calada e inconsciente
Vivo uma vida igual continuamente
A pausa, em si, não mantém o corpo parado
A fala, sim, mantém a mente aquietada

Desonrei minhas palavras, voltei atrás
Contradisse minhas verdades
Calei minhas vontades
Esqueci meus ideais

Minha sofisma, sua insistência
A arte das nossas mãos
Caminhando sem rumo em direções opostas
Juntas e prontas para nunca mais se encontrarem

Meus pés se arrastam, minha cabeça baixa
Meu corpo cansado, só pára diante do teu
E calado e cru, no seu se encaixa
Parada e adormecida, sou sua e te faço meu

Isabela Moraes
09/03/2010

domingo, 7 de março de 2010

As dúvidas, o filme, a conclusão da mãe


Acordei às três da manhã, olhei para um lado e para o outro e olhei para o relógio acima da minha cabeça. Triste conclusão. Sabia que teria que fazer um grande esforço para voltar a dormir e aproveitar as poucas horas que me restavam antes de acordar para o que seria mais uma manhã ruim de sábado. Só conseguia pensar que não devia pensar em nada. Voltei a dormir. Voltei a acordar. Me dei por vencida mais rápido do que normalmente. Sabia que tentar não pensar em nada seria pior do que aceitar que teria que pensar nisso. Li que as decisões que tomamos sem pensar podem se tornar as melhores da sua vida, e as mais racionais também. Então, eu não devia pensar nisso. Devia esperar, esquecer a dúvida e tomar a decisão apenas quando me visse frente a frente com a situação. Talvez assim, eu não perca mais o sono tentando achar um jeito de não magoar ninguém, talvez assim eu faça a coisa certa pra mim. Não consigo parar de pensar na frase do filme –“não há escolha mais fácil, qualquer que seja a minha escolha, alguém vai sair machucado”-, que agora combina tanto com esse momento. Do mesmo filme, a luta que ultimamente tenho travado. Aprender a fazer o que quero fazer. Esquecer do que devo fazer, do que os outros gostariam que eu fizesse. Afinal, são as minhas decisões que fazem meus caminhos, e que fazem a minha vida ser como ela é, ou será um dia. Mas, meu coração não sabe ceder às minhas vontades, e acaba sempre mostrando que pode ser muito ruim se eu não pensar nos sentimentos dos outros. Eis minha dúvida. Se eu pensar nos sentimentos dos outros, não há saída. Vou acabar decepcionando alguém, ferindo alguém, e talvez não tome a escolha certa e todo sofrimento será em vão. Mas se fizer o que quero, saberei que fiz a escolha de coração, mas o remorso pode me fazer sofrer ainda mais. Minha mãe está certa, sou confusa e meus discursos não tem coesão.

Isabela Moraes
06/03/2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

Primeiros passos


Pense nisso. Eu sou como uma criança, que dá os primeiros passos de forma inconsciente. Não sei o que estou fazendo, apenas me deixo levar pelos instintos e tento fazer como vejo que devia fazer. Mas nem sempre dá certo, então eu caio, às vezes choro, às vezes o tombo é mais triste que a dor. Às vezes me jogo no chão de propósito, quando sinto que minhas pernas começaram a bambear, porque sei que é melhor assim do que cair de surpresa e talvez me machucar mais. E como uma criança, sou primitiva demais para entender o que as pessoas estão tentando me dizer. Os avisos que estão tentando me dar a respeito do que devo ou não fazer, os cuidados que devo tomar. Não paro quando mandam, não fico sentada quietinha. Insisto em andar, mesmo quando as pernas não sabem o que fazer. Mesmo cambaleando, quero seguir, e sorrir cada vez que olho para trás e vejo tudo que já caminhei. Engatinhar não é o bastante pra mim.
Como uma criança, sou impulsiva, impaciente e instável. Mas não faço por mal ou para machucar. Faço porque acho que mando em tudo, mando no meu mundo e penso que posso fazer o que quero com todos ao meu redor. Sabedoria de criança. Só quem é criança entende que o mundo delas é só delas. E que elas reinam no mundo delas. Ela não entende quem tenta invadir, mas acaba deixando entrar, e aos poucos apresenta tudo ao novo participante de sua vida. Mal sabe ela que é dependente de tudo e de todos. Fica se achando, mandando nos seus brinquedos, enquanto é feita de brinquedo. Um mero detalhe no cotidiano. O jeito como levo a minha vida. Os primeiros passos de uma criança. Apenas preciso de alguém para ficar do meu lado caso eu caia.

Isabela Moraes
03/03/2010

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou c...