Eu chorei aquele inverno e saí para regar o jardim com minhas lágrimas. Não podia viver com aquelas árvores nuas e secas. Seus galhos pontudos arranhavam meu rosto e misturavam minhas lágrimas a pequenas gotas de sangue.eu corri por entre as plantas e os canteiros e limpei cada canto. Arranquei as plantas daninhas, remexi as folhas secas até achar vida e terra fofa para plantar a bela flor que o vento havia trazido e deixado aos meus cuidados como uma carta. Aquela semente veio me dizer que meu trabalho não havia acabado. Encarei o vento gelado e voltei a cuidar do jardim. Suportava a dor, o frio e o cansaço recordando a beleza que havia despertado naquela primavera. Tudo que queria era ver as flores desabrocharem novamente. Nunca mais as deixaria secar.
Aquele jardim é o meu universo particular. Nunca mais quero vê-lo desencantado. Sei que a primavera se aproxima, então faço o que for preciso. Saí de mim. Abandonei os velhos hábitos e tomei para mim os pequenos cuidados que farão a diferença quando o tempo das flores voltar a presentear meu jardim, . Não sou mais a mesma, deitei-me na grama e tornei-me parte das plantas. Rego-as com minhas lágrimas lamentando meu lapso de atenção Sou incapaz de descuidar-me delas, sou incapaz de tocá-las sem a delicadeza do amor.tomei para mim o suavidade das pétalas, porém sem jogar fora as pequenas larvas do dia-a- dia. Tão essenciais parar manter viva a beleza suprema das borboletas brincando entre o desabrochar das flores. Fiz da recuperação deste jardim minha própria maneira de me reinventar e recuperar os pequenos detalhes aos quais não dei atenção por estar trancada em mim.
Isabela Moraes
13/08/2013
"Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra a tua boca
E mesmo que em ti me perca
Nunca mais serei aquela
Que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela"
Quando fui chuva_Maria Gadú
Quando fui chuva_Maria Gadú