A noite está muito escura, sem lua, sem brilho. A chuva de repente para, silenciando tudo. Do corredor pode-se ouvir meu choro. Eu estou sentada no chão do meu quarto, debaixo da janela, soluçando, mas não tem ninguém do lado de fora pra ouvir. Tanto faz. Lágrima seca de dentro pra fora, então ninguém pode enxugá-las pra mim. Minha testa está encostada nos meus joelhos, e meus braços estão pressionados entre minhas pernas e minha barriga, apertando uma almofada, os meus dedos estão molhados e machucados de tanto apertar a cruz de madeira. Na minha mente os meus pecados e arrependimentos vem e vão, me fazendo chorar mais e mais. E eu peço perdão. E mesmo que ninguém possa ouvir, eu não tenho coragem de falar em voz alta. Tudo é um grande borrão na memória embaçada como minha visão. O sono me envolve me levando para sonhos mais tranqüilos que este momento.
Me levanto para mais um dia de batalha. Forçada a sair da cama, forçada a sorrir, forçada à solidão que escolhi por livre arbítrio. A vida não me intimida, então ando pela rua de peito aberto, queixo erguido e orgulho pendurado no pescoço. Apesar de tudo, não me preocupo se alguém me encara de cima a baixo, porque não vai conseguir enxergar o que minha armadura esconde. Talvez por trás da máscara de ferro eu seja mais feliz do que a frieza de metal mostra. Talvez eu possa ficar segura no mundo mesmo sem essa armadura pesada que sustento. Então, aos poucos vou deixando a armadura pelo caminho, mas uma coisa, minha mão não deixa cair. A espada que seguro, não é segura, e é sempre usada da pior maneira, no momento errado. Por isso, jamais cravei-a no inimigo, mas já despedacei, por vezes, corações inocente. Mantenho comigo o dilema, minha proteção é meu desgosto e meu remorso.
Depois da rotina desgastante, consigo me distrair na volta para casa, olhando a beleza ao meu redor. A paisagem é das mais belas, mas fica fora de foco, diante das lembranças do que já vi antes. Meu único conforto é chegar ao lar vazio, deitar na cama fria, ouvir apenas o rádio. Abro a porta para um quarto solitário habitado pelo único objeto que sei usar corretamente. De vez em quando, o modo como o uso machuca os olhos de alguém. Pena, que uso a caneta para escrever verdades, não posso desmentir as palavras. Mas ela é melhor que qualquer cruz, ou qualquer espada. Expulsa os meus demônios, ou qualquer coisa que se aposse dos meus sentimentos, atos ou emoções. Me dá firmeza para enfrentar qualquer coisa que tente me abater, e me mantém na luta todos os dias. Ela deixa sua marca no papel, e assim, me cura de todas as cicatrizes, e sua tinta molhando as linhas, seca as minhas lágrimas.
Isabela Moraes
02/02/2010
expulso os meus demônios, parto corações e escrevo sentimentalidades