sábado, 22 de janeiro de 2011

Foi você

Não adianta mesmo. Você é daquelas pessoas que tem suas convicções mais fincadas que raiz de árvore centenária da Amazônia. E suas opiniões são daquelas bem corretas. Você odeia tatuagem, baile funk, drogas, pornografia, quer se casar na igreja (virgem?), ter filhos, um bom emprego.  Você é a imagem do bom menino que toda mãe pediu que sua boa filhinha encontrasse.
 Mas nada disso me faz amar você. Não tem nada a ver com suas implacáveis certezas sobre traição, amor, confiança, fé. Tudo gira em torno de você ser a pessoa mais teimosa que eu já conheci, além de mim. Chega a ser constrangedor saber que você leva tudo até o fim, enquanto eu vou largando tudo pelo caminho. Você insiste mesmo. E insiste em me amar. Deve ser isso. Eu me perdi de propósito, te abandonei, fiz o que bem entendi. E depois de ter aprontado, quando a vida aprontou pra mim e eu olhei pra trás, pra ver onde tinha tropeçado, lá estava você. Me observando dar cada passo. E foi você, quem eu tanto destratei e fiz pouco, quem me ajudou a levantar. Quem me viu chorar, e me amparou diante dos meus medos e mágoas. Foi você quem atendeu telefonemas de madrugada, e quem ouviu cada uma das minhas lamúrias. Quem sabe o quanto aquelas noites que dormi abraçada aquele bebê mexeram comigo. Quem me amou sem que eu pedisse para ser amada, sem que eu merecesse, sem que, ao menos, me deixasse ser amada. Foi você. Por isso, é você que eu quero do meu lado quando eu estiver pronta para dizer aquelas palavras. É com você que eu quero andar de mão dada.

Isabela Moraes
21/01/2011

"O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."
Carlos Drummond de Andrade, Mãos Dadas

"Eu sempre oscilei, eu nunca confirmei
(...)
Eu sempre duvidei, eu nunca precisei
Andar de mão dada, andar de mão dada, andar de mão dada, dada"

Letuce - Mão dada

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O que a gente faz para ser amado

"- Mais que tudo, Deus adora ser admirado.
- Então Deus é vaidoso?
- Vaidoso, não. Só quer compartilhar o que é bom. Deus deve ficar furioso quando alguém passa pela cor púrpura nos campos, e nem se dá conta.
- Está dizendo que Ele só quer ser amado, como diz a Bíblia?
- É Celie, tudo no mundo só quer ser amado. A gente canta e dança e grita porque queremos ser amados. Olhe as árvores, elas fazem tudo que a gente faz para chamar a atenção, menos andar."
(A Cor Púrpura)

 A gente luta, a gente briga, a gente chora, grita, nega, esconde, finge que não sente o que sabe que sente. Ninguém quer se sentir assim. A gente acha que pode mudar as coisas, quebra a cara, parte o coração, vê o quão desprotegido está. Vê que não pode fazer muita coisa. A gente foge, é. Foge. Corre o mais rápido que pode e quando para e olha para dentro da gente aquilo ainda está lá. Então a dor nos ataca e a gente cai. Ah, quantas vezes a gente cai. A gente promete nunca mais fazer. E a gente faz de novo. Porque a gente faz por amor, e esquece de se perguntar se é certo ou errado. A gente sofre e pede ajuda, pede abrigo. E conta tudo, porque a gente acha que alguém pode nos ajudar, nos apoiar. A gente descobre que tem gente que um dia vai zombar da nossa dor, que tem gente que vai jogar na nossa cara a ajuda que nos deu. Tem gente que nos dá a mão pra levantar pra ter o prazer de jogar na lama de novo. A gente descobre que tem gente que mente, que engana, que é cruel. A gente aprende a ser cruel também e perde a inocência do amor puro. A gente começa a gostar do que nos apontam como errado. No fim das contas, a gente quer é ser feliz, ser amado. E se o errado nos ama, então a gente abraça o erro com a maior displicência. A gente ama. A gente é gente também.
Isabela Moraes
12/01/2011

"Que culpa a gente tem
De ser feliz
Que culpa a gente tem
Meu bem?!
O mundo bem diante do nariz
Feliz aqui e não além...
"
Tão seu - skank

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Não tem de ser assim

Não bastasse a enxaqueca que não cessa, agora vem uns problemas desabar na minha cabeça. Com essa vida cada vez mais decadente, parece que estou chegando no fundo do poço. Na fossa mesmo.Foda-se.
Queria saber se com todo mundo é assim. Você vê alguém igual a você passando por tantos problemas, e por essa pessoa ser assim, tão próxima, você abraça a dor dela. Toma pra si. Absorve até as lágrimas mais doídas. Sem nem saber o motivo. Mas dói. Talvez seja a agonia de saber que é seu semelhante. E toda a atenção que presta é só porque você sabe que um dia pode acabar cometendo os mesmos erros. Porque é igual mesmo. A mente funciona da mesma maneira. Enreda pelos mesmos caminhos. Talvez por isso, e só por isso, sinto como se estivesse no mesmo barco. Neste mesmo barco desgraçado que eu já vi furar tantas vezes, e vi o esforço que é preciso para não afundar. Mas que sei que não pode lutar contra a maré. Que droga! Tudo estragado. Não dá pra acreditar...

Isabela Moraes
12/01/2011

Minha Receita: 
Para a fossa:
     Chocolate, 1 Lata de Coca-Cola, Playlist da Amy Winehouse, Bolsa de gelo, Algo pra rasgar ou morder.
Para depois:

     Outra bolsa de gelo, Sonrisal (ou Aspirina), Café, Óculos Escuros.
Enjoy!

Pra dentro


Eu tenho desses momentos, em que olho pra dentro. E paro de absorver coisas novas. Fico quieta, querendo sumir. Com uma esperança muito forte de que vou encontrar alguma coisa. Ás vezes demoro. Não me culpe por isso. Nem sempre é fácil se encontrar nessa bagunça. Nem sempre o que procuro está lá. No fundo, acho que o importante não é achar nada, mas dedicar esse tempo a me olhar um pouco, me enxergar. Reconhecer as coisas que esqueci que eu guardava. Sentir até as entranhas. Chorar cada pedaço perdido, sorrir cada bobagem falada. Recordar. Reviver. Reencontrar o que nunca perdi. Descobrir mais uma vez. Viver. Pra dentro. Amar pra dentro. Sentir pra dentro. Pra depois me renovar e sair de novo.

Isabela Moraes
12/01/2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Põe na mesa

- Então, ele deve estar feliz, né?! – era uma pergunta retórica, como a maioria das que minha mãe faz.
- É o que parece, mãe... - eu respondi sorrindo.
- E você? – ela indagou, interrogou, com olhos me focando e as sobrancelhas arqueadas.
Titubeei. Sentei na cadeira, pousei a xícara de café sobre a mesa, apalpei o pão. Olhei para todos os cantos do teto e compulsivamente levei o café e depois o pão à boca, para não ter que responder de imediato. Porque não sabia a resposta.
 Crueldade da minha mãe fazer uma pergunta dessas. E eu mal tinha acordado. Ainda nem tinha tomado café da manhã. Estava quase um zumbi. Meu cérebro quase pifou.
 Engoli tudo e me ocupei com a toalha da mesa. Botei um sorriso torto na cara e fiquei fingindo que estava fazendo jogo. Enquanto isso, pensava, procurava, pesava mentalmente a felicidade daqueles momentos que passamos ultimamente e tudo que ainda não me deixava ter certeza da resposta.
 Por uma fração de segundo, meu olhar repousou naquele corredor ao pé da escada, e eu me lembrei. De nós dois, seguros, em silêncio, juntos. Bem ali.
 Então, mesmo confusa eu respondi, apenas porque era como me sentia naquele momento. Emiti um único som que ecoou na cozinha o resto da manhã, que perdurou pelo resto do dia, que preencheu minhas dúvidas e se seguiu de um sorriso encabulado e sincero.
- Uhum.

Isabela Moraes
03/01/2011

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou c...