segunda-feira, 26 de abril de 2010

Campanário

Quem dera você tivesse notado que eu estava ali esperando e procurando por você. Ansiando que me puxasse pela mão e me enlaçasse em meio a seus braços. Agora estou vulnerável a teus mais delicados e gentis gestos. Fico quieta, com medo de que o sonho se torne apenas pó, enquanto teus lábios repousam sobre as maçãs do meu rosto quente, e murmuro, esperando que desta vez não esteja atrasada. Eu devia dizer alguma coisa para servir de plano de fundo à imagem deste momento, que inutilmente tento fotografar e guardar comigo. Devia dizer que te amo, mas temo que me rejeite e negue meu amor, como antes fiz com o teu.
Se errei por me atrasar, me adiantar agora não vai curar o tempo que você ficou à minha espera. O meu erro é insistir em tentar, mesmo sabendo que já não há mais tempo, as portas já foram fechadas. Devia me arriscar em novos amores, pra não te magoar, relembrando que ignorei seu amor por mim. Devia enterrar as histórias que já vivi, ou que me neguei a viver. Esquecer e deixar que os corações que feri se curem.
Então, não me permito amar você. Não me permito remoer teus antigos sentimentos. Me permito te mostrar que te amo muito, mas não que te quero tanto.
Perdoe meus erros passados, e se agora estou errando de novo. Lamento todo meu amor (e minha demora), pois nossas vidas não cabem mais na mesma história.

Isabela Moraes
12/04/2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Livre escravidão

Veja só, você me traz essas coisas boas de sentir, mas também sabe me ferir e ás vezes, me faz sua só pra me abandonar. Você não devia, mas eu sei que não tenho como te evitar. E eu não posso deixar você ir embora nunca mais. Vai sempre ser mais forte do que eu, mas eu nunca vou me entregar, sou um escravo livre pedindo permissão para desfrutar da alforria. Você se esquece sempre de deixar de lado suas brincadeiras que são quase um labirinto, por onde corro com a única intenção de sair. Sem perceber, você me prende de um jeito que não quero ficar. Não precisa disso. Eu sou sua, sempre fui. Me deixe livre e eu vou voltar pra você.
Sabe, sempre calei o meu ímpeto quando devia te responder. Sempre me escondi, pra que você não me visse vidrada em você, sempre omiti todas as provas de amor que inconscientemente preparava pra você.
Se um dia, no futuro, nos encontrarmos em qualquer calçada por aí, olhe nos meus olhos como nunca olhou, finja que realmente sabe quem eu sou, esqueça que um dia amei você. E passe sem acenar, eu vou fingir não mais te amar, vou disfarçar não ver você.

Isabela Moraes
20/04/2010

Eu e o tempo

Entristece-me descobrir o óbvio. O tempo que perdi andando por estes corredores, chorando amores, ou sentada quieta, esse mesmo tempo quando podia estar correndo o mundo, sorrindo ou gritando para despertar corações dilacerados. Mas tive pouco tempo. E agora é o tempo que faz-me correr atrás da resposta, e depois sentar-me cansada e esperar que ele passe. Petulante e sutil, ele passa. E faz-se impossível detê-lo. Leva-me com ele mas deixa-me sempre à margem, podendo ver e ser vista por tudo que não vai com ele. Mas queria Pará-lo e deixar minhas marcas em tudo que para mim é só paisagem vista de longe. E então, faria parte do que não há de passar. E parte de mim estaria salva, intacta, intocada pelo tempo, o cruel carrasco que arranca a vida de tudo que está ao seu alcance.
Mas tudo que posso fazer, é deixar que leve-me com ele, e quem sabe, tornar-me eterna usando minha efemeridade. Pois o tempo também passa, e nem sempre é esquecido. Eu posso talvez, assim como ele, passar e ser lembrada.

Isabela Moraes
12/04/2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fluxo

Meu corpo, perdido, sem alma
Sem a calma que seu olhar traz
E tudo passando por mim
E eu andei por entre os carros
As luzes sem brilho me levando
E cheguei ao teu corpo,
Que agora me pertence
E que sempre foi meu templo
Meu contentamento, meu lugar
E sob sua pele morena
Nenhum inverno pode congelar
O fluxo que me faz ficar
E ser o corpo quente
A te abraçar

Isabela Moraes
01/04/2010

domingo, 18 de abril de 2010

Conto

Acordei cedo, cansada, dormi muito mas o corpo sente que foi pouco tempo. A manhã ainda estava fria e esbranquiçada, mas era tarde demais para fazer qualquer coisa que pudesse melhorar o meu dia. Como o Coelho de algum País das Maravilhas, uma voz repete sussurrando ao meu ouvido, “é tarde, é tarde!”. Tento correr para alcançar as coisas que insistem em fugir de mim. Tudo sempre passa como um raio, e eu não me dou conta de que esses preciosos momentos não vão se repetir.
Que inveja eu sinto das flores que podem sentir o vento, e se deliciar com as nuances do toque da luz do sol. Que inveja dos barcos, que conseguem acompanhar e se aproveitar da correnteza, e passar por tudo e deixar que tudo passe por ele. Invejo-os, pois são meros espectadores e, ainda assim, conseguem verdadeiramente ser parte de tudo pelo que passam. E eu, passiva demais para tomar minha vida em minhas mãos, acabo ficando sozinha assistindo sempre sem intervir em tudo que vivo.
E o meu tempo passa diferente, é inconstante, ás vezes perco sua lógica. O meu tempo é o descontrole da minha mente. É a contagem das vezes em que me perco, ou me encontro, buscando meu amor. Eu estou perdendo o meu tempo.

Isabela Moraes
18/04/2010

Meus dezesseis anos de "incontáveis perdas de tempo".

sábado, 17 de abril de 2010

Alegria

Nada falo que te sirva muito,
mas nada mais quero falar.
Vamos fazer acontecer
agora que podemos viver
tudo que está estampado
no nosso jovem horizonte.
E depois, sem arrependimento
podemos reescrever
e viver tudo que novo,
de um jeito diferente
do que agora estamos vendo.

Isabela Moraes
17/04/2010

Colegial

Vivo por estes cantos
Desse lugar que conheço
E me perco conhecendo
As almas que me habitam
Pois sou parte desse lugar
Minha vida é aqui vivida

Contam-se horas,
e incontáveis perdas de tempo.
Vem o adeus, e a chegada se vai
Acabo por deixar inacabado
Tudo quanto quero pôr fim
Pois não vejo o final
Se aproximar do início

Estou sem paciência
Para tudo que não sei dizer
E preciso escrever
Tudo aquilo que quero ver
E então, espero por tudo que quero

Vão-se as coisas em vão
Perdidos estamos diante de tudo
Tudo passa e o mundo fica
Fiquemos então parados
Deixemos que o mundo passe

Tristes estes caminhos sem fim
Completamente absorta diante de mim.

Isabela Moraes
31/03/2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mais do que palavras


Pára, por favor. Suas palavras entram pelos meus ouvidos e vão tomando espaço e despedaçando tudo que vêem pela frente. Cruel demais até para alguém que sabe escolher quais palavras guardar. O problema é que você não me oferta as suas palavras, você as deixa carimbadas em mim, e para não me ferir mais com elas, acabo por fechar os olhos, e invento as cores de um mundo que não existe realmente. E quando me acostumo com minhas invenções, por um descuido, abro os olhos e me deparo de novo com suas palavras. Chega, por favor. Eu já não posso mais ser a vilã da minha própria vida. Torturando todos ao meu redor e me machucando com as cordas que uso para prender meus réus. Não posso mais. Porque se me atrasei em ver a verdade, ou se hesitei tanto que o caminho não tem mais importância, então deixa, que eu vou me sentar nessa calçada e fazer o que sempre fiz. Só observar quem sabe passar, quem sabe decidir a própria vida. E tentar aprender alguma coisa, absorver um pouco da auto-suficiência dos sábios, ir tateando e trilhando outras rotas para chegar àquele destino. Mas não quero suas palavras como um percalço, ou um apoio. Deixe, que eu tenho que aprender a seguir no silêncio que minha mente grita. Não abafe mais as minhas palavras para fazer com que eu note as suas. Eu sempre tentei te dizer, mas você nunca calou para ouvir. Eu preciso de você. Calado, mudo. Mas bem perto de mim. Com algo mais do que só as suas palavras frias e duras.

Isabela Moraes
09/04/2010


Agora que tentei
Falar com você e fazer você entender
Tudo o que você tem que fazer é
Fechar seus olhos e só estender suas mãos
E me tocar, me abraçar apertado
Não me deixa nunca ir embora
Mais que palavras
É tudo o que eu sempre precisei que você mostrasse
// Extreme : More than words

terça-feira, 6 de abril de 2010

Nuvem negra


Grandes gotas de chuva escorrem pelo meu rosto, o vento bate contra mim e quase posso sentir meu sangue congelando. Parece que é o fim de tudo. Como se nunca mais fosse haver sol, ou lua, ou qualquer coisa no céu. O azul deu lugar pro branco. Tudo ficou feio. Frio, molhado e cinza. Parece não haver espaço pra felicidade em meio ao caos. Tenho que me manter parada aqui, tão longe, e dói não ir até você. E eu só queria os seus braços longos ao meu redor, eu iria a pé pra olhar nos seus olhos, levando comigo essa nuvem e essa chuva, pra nos dissolver e nos fazer um só. Mas agora, como esse sol que não vem, você também não está perto de mim, está irradiando outros corpos, aquecendo outros abraços. Então prefiro me dissolver na chuva e escorrer até qualquer mar, que qualquer dia vai banhar teu corpo bronzeado e entranhar em seus cabelos. E talvez você sinta meu gosto, e lembre de quando fui sua. É o único jeito dessa chuva me levar até você. Você que chove em mim, me lava e me deixa sem nada. E depois que toda essa chuva passar e o sol vier de novo cegar meus olhos, vou até lá, pra me aquecer em você. Porque é tudo que posso ter de você.

Isabela Moraes
06/04/2010

domingo, 4 de abril de 2010

Você agora


Sua marcas desapareceram da minha pele como cicatrizes de criança que vão embora com a maturidade. Mas eu sinto falta das lembranças que elas traziam. E em mais uma das minhas contradições, me sinto aliviada por não ser mais torturada com tudo que não é você. O espaço vazio onde antes você estava. Tudo isso cinza, antes era você colorindo meu dia. Seu abandono foi envelhecendo tudo, secando tudo, desfigurando até as mais belas paisagens. Não negue, meu bem, que você me deixou sozinha, num canto, como uma boneca de pano que já não era boa o bastante pra você brincar. Divirta-se com o mundo novo que você tem, sorria com seus amigos, saia pra dançar, curta seus bons momentos. E de longe eu vou olhar e admirar seu sorriso. Vou me acostumar com o que restou de você. E um dia, vou me levantar e olhar pra trás, achar graça do sofrimento da juventude, e tudo isso vai passar.
Mas eu não queria que passasse. Eu queria que você ficasse do meu lado agora. Agora pra sempre, sabe. Te prender ao meu lado não adiantaria, e tentar te reconquistar vai ser em vão. Então, meu bem, se não for pra me tirar da solidão, me deixe no meu canto. É melhor ficar sozinha do que me enganar, pensando ter você.
Talvez, tudo isso pareça muito melodramático. Não quero me arrastar a seus pés implorando seu amor de volta. Mas saiba, que eu sempre acreditei nas suas palavras. Você disse que esperava. E agora, eu fiquei só com suas palavras vãs.

Isabela Moraes
04/04/2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Procure

Me procure nas tuas tristezas
Procure nas tuas lágrimas
Ou nas tuas incertezas
Talvez nas velhas rimas

Procure nossa história
Em algum enredo
Quem sabe na glória
Ou no meu medo

Procure meu coração
Em algum canto largado
No paraíso ou embaixo do colchão
Da cama do teu quarto

Procure agora me responder
E acabar com meu tormento, então,
Algum dia vai voltar a me querer,
Ou vou ficar só com minha solidão?

Isabela Moraes

31/03/2010

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou c...