
Ela está muito bem escondida. Talvez com medo de sair e tomar seu lugar no mundo, talvez cansada de ter de batalhar tanto para ser ela mesma. Mas ela ás vezes me possui, e me coloca em cima de um salto alto, dentro de um vestido decotado e me pinta a cara. Não a entendo muito bem. Nunca estive dentro do mundo dela. Mas ultimamente, ela anda tentando fazer do meu mundo o que ela bem quer. Isso, nós duas temos em comum, eu não entendo do mundo dela e ela não entende do meu. Pergunte a alguém igual a ela, se sabe a diferença entre uma broca de vídea, ou uma broca comum. Eu imagino sua voz irritante de inocente fingida dizendo “o que é uma broca?”. Não estou menosprezando suas iguais. Só estou dizendo que não temos muita coisa em comum. Exceto o corpo. Já que também em meu corpo habita uma mulher, cheia dessas coisas que elas tem. Coisas que não fazem o menor sentido pra mim. Salto alto, pra mim é tortura, pra elas é charme. Decotes pra mim são uma preocupação, já que não tenho modos, mas pra elas, as mocinhas cheias de suavidade no andar e nos movimentos todos, é mais um atrativo para sua beleza feminina natural. Saias são um problema sério para minha integridade moral, pois não sei sentar de pernas fechadas, muito menos de pernas cruzadas, mas elas, de saias, são bonecas perfeitas com as pernas de fora, muito bem evidenciadas por seu charmoso cruzar de pernas.
Talvez, isso tudo seja raiva e inveja reprimida, que eu resolvi cuspir depois de muito tentar ser igual a elas. Mas eu confio na teoria de que eu não sou feliz assim. Me faz falta o cheiro de testosterona dos meus amigos suados depois de uma partida de futebol. Me faz falta as conversas sobre como é chato ter um papo de garota. Me faz falta ouvir discussões sobre futebol, com direito a todos os xingamentos à mãe do juiz. Me faz falta a alegria estampada na cara, de ser a invasora do clube do bolinha. Mas não me lembro, de sentir falta das revistas de moda, dos vestidos, do esmalte, do salão de beleza, do rosa, dos babados, do sutiã, da meia-calça, dos brincos, cordões, anéis, festas de debutante, fofoca sobre as colegas, conversa idiota sobre a (falsa) complexidade dos homens, e toda essa superficialidade que as mulheres criaram para deixar molecas como eu, à margem de seu mundo.
Finalmente, usando as palavras de Rita Lee, uma deusa da sabedoria, completo. “As peruas pensam que sabem tudo sobre o interior feminino e a profundidade da coisa, mas na verdade, elas não sabem. Elas ficam ali só na entrada da caverna.” O interessante é ir mais fundo e conhecer o que é ser mulher. Já chega dessa coisa de mulherzinha. Eu sou mulher também. Apenas com menos maquiagem, menos roupas decotada, menos salto, menos brilho, e mais, muito mais confiança no meu All Star e camiseta básica. Apenas uma menina que não foi mandada para a floresta, mas para a escola, e lá não foi criada por lobos, foi criada por meninos.
Isabela Moraes
P.S.: Mulherzinha é só um termo para me referir às peruas superficiais que nem são mulheres de verdade na verdade. Orgulho feminino sem salto alto!
Sinceramente...
ResponderExcluirVocê é igual a todas as mulheres, mais com um toque diferente, mas isto não menospreza o seu jeito de ser, só a qualifica a pessoas te admirarem, tanto homens quanto mulheres, por você ter características assim.
Além do mais debaixo dessa máscara de menina forte, tem uma menina sonhadora, uma menina amável, que zela pelas pessoas.... que só as pessoas bem próximas de você conseguem enxergar... e quando conseguem, vêem que a mascara e o interior se encaixam quase perfeitamente e isso tudo formam você.. que independente de você gostar d jogar bola ou não, ou bater nas pessoas(uhuauhuauhau).... Te amam por você ser assim!