segunda-feira, 10 de abril de 2023

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou certa de que isso de nada vale se nos dispusermos a fazer dar certo. É um trabalho cotidiano de ajustar o que não se encaixa, ora aqui, outrora ali, manutenção diária. Requer disciplina, atenção, cuidado. E vontade, todo o resto podemos fazer por auto-observação, nos policiando e até condicionando, mas a vontade, a vontade precisa ser genuína. De outro jeito não funciona. Certa vez ouvi que amor é escolha, requer trabalho e disposição. Você ainda tem vontade? Ainda tem disposição pra esse trabalho? Ainda é a sua escolha?
Porque, meu amor, se não lutarmos por isso, se não acreditarmos, não vai dar certo. Não fomos feitos um para o outro, nenhum destino nos une. Apenas nós mesmos. 

Isa Coutinho
07/02/23

"It's not a walk in the park to love each other
But when our fingers interlock
Can't deny
Can't deny you're worth it

'Cause after all this time
I'm still into you(...)And, baby, even on our worst nights
I'm into you (I'm into you)

Let 'em wonder how we got this far
'Cause I don't really need to wonder at all
Yeah, after all this time
I'm still into you"
Still into you – Paramore

sexta-feira, 10 de junho de 2022

No escuro

 



Já não abro as cortinas, me escondo do sol de que tanto gostava, ele me lembra das tardes com você.

Parece que desde que te deixei ir fui perdendo tudo, pouco a pouco. Tentei voltar para aquele tempo em que você estava por perto, acabei voltando para a tristeza do desencontro de nossos caminhos. Voltei para a solidão. E você voltou para seu novo lar, para seu distanciamento. Será que se sente solitário também? Será que também teve esperança de uma nova chance para nós?

Só recebi seu silêncio, você não se abre mais comigo como naquele tempo, hoje me deixa no escuro, você não é mais quem eu amei, porque eu amava, antes de tudo, nossa cumplicidade, amava trocar olhares de admiração mesmo diante de verdades inconvenientes, de defeitos, de tristezas. Tudo valia a pena, tudo era mágico, porque era, acima de tudo, sincero.

Faz semanas que você foi embora e eu não cicatrizo. Você parece não se importar com nosso desencontro, e me dar conta disso torna o corte ainda mais profundo, dá mais vontade de me esconder do mundo.

Isa Coutinho

10/06/2022


”Do you remember winding your arm around my shoulder

As we wandered 'round the hill?

Now I'm in that fog forever and full collaboration with the weather

'Cause

I'm not free at all”

Haunted House – Florence + The Machine


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Distante


Há tanto está distante que me acostumei com a ideia. Mas hoje já não é questão de geografia; é teu coração que já não me acolhe mais, é tua mão que evita meu toque, teus olhos desviam dos meus, teu ombro recusa minhas lágrimas. Não há estrada que me leve até você, buscando me aproximar tomei um caminho que não permite retorno. O mais difícil é saber que foges de mim. Que escondeu um sentimento que eu quis tanto, por tanto tempo. Avareza emocional, omissão. Mas dessa vez vou me economizar, transformar isso em amor próprio, em admiração por mim mesma e minha capacidade de querer bem alguém que talvez nem me mereça, que escolheu não arriscar por mim, subestimou meu coração. Somente sob o Sol forte desse verão de tristezas eu pude ver com clareza, você sempre manteve distância.

Isa Coutinho

02 de fevereiro de 2022.

"The truth never set me free
So I did it myself
You can't be too careful anymore
When all that is waiting for you
Won't come any closer
You've got to reach out a little more, more, more"
Careful - Paramore


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Solidão

"Antônio Pigafetta, um navegante florentino que acompanhou Magalhães na primeira viagem ao redor do mundo, ao passar pela nossa América meridional escreveu uma crônica rigorosa, que, no entanto, parece uma aventura da imaginação. Contou que havia visto porcos com o umbigo no lombo, e uns pássaros sem patas cujas fêmeas usavam as costas dos machos para chocar, e outros como alcatrazes sem língua cujos bicos pareciam uma colher. Contou que havia visto um engendro animal com cabeça e orelhas de mula, corpo de camelo, patas de cervo, relincho de cavalo. Que puseram um espelho na frente do primeiro nativo que encontraram na Patagônia, e que aquele gigante ensandecido perdeu o uso da razão pelo pavor de sua própria imagem.

Este livro breve e fascinante, no qual já se vislumbram os germes de nossos romances de hoje, está longe de ser o testemunho mais assombroso da nossa realidade daqueles tempos. Os cronistas das índias nos legaram outros, incontáveis. O El Dourado, nosso país ilusório tão cobiçado, apareceu em inúmeros mapas durante longos anos, mudando de lugar e de forma de acordo com a fantasia dos cartógrafos. Na procura da fonte da Eterna Juventude, o mítico Alvar Núñez Cabeza de Vaca explorou durante oito anos o norte do México, numa expedição lunática cujos membros se comeram uns aos outros, e dos 600 que começaram só restaram cinco. Um dos tantos mistérios que nunca foram decifrados é o das onze mil mulas carregadas com cem libras de ouro cada uma, que um dia saíram de Cuzco para pagar o resgate de Atahualpa e nunca chegaram ao seu destino. Mais tarde, durante a colônia, em Cartagena das Índias eram vendidas umas galinhas criadas em terras de aluvião, em cujas moelas apareciam pedrinhas de ouro. Este delírio ao áureo de nossos fundadores nos perseguiu até há pouco tempo. No século passado, a missão alemã encarregada de estudar a construção de uma estrada de ferro interoceânica no istmo do Panamá concluiu que o projeto era viável, desde que os trilhos não fossem feitos de ferro, que era um metal escasso na região, e sim de ouro.

A independência do domínio espanhol não nos pôs a salvo da demência. O general Antonio López de Santana, que foi três vezes ditador do México, mandou enterrar com funerais magníficos a perna direita que perdeu na chamada Guerra dos Bolos. O general García Moreno governou o Equador durante dezesseis anos como um monarca absoluto, e seu cadáver foi velado com seu uniforme de gala e sua couraça de condecorações sentado na poltrona presidencial. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teósofo de El Salvador que fez exterminar numa matança bárbara 30 mil camponeses, tinha inventado um pêndulo para averiguar se os alimentos estavam envenenados, e mandou cobrir de papel vermelho a iluminação pública para combater uma epidemia de escarlatina. O monumento do general Francisco Morazán, erguido na praça principal de Tegucigalpa, na realidade é uma estátua do marechal Ney, comprada em Paris num depósito de esculturas usadas.

Há onze anos, um dos poetas insignes do nosso tempo, o chileno Pablo Neruda, iluminou este espaço com a sua palavra. Nas boas consciências da Europa, e às vezes também nas más, irromperam desde então com mais ímpeto que nunca as notícias fantasmagóricas da América Latina, essa pátria imensa de homens alucinados e mulheres históricas, cuja tenacidade sem fim se confunde com a lenda. Não tivemos, desde então, um só instante de sossego. Um presidente prometeico, entrincheirado em seu palácio em chamas, morreu lutando sozinho contra um exército inteiro, e dois desastres aéreos suspeitos e nunca esclarecidos ceifaram a vida de outro de coração generoso, e de um militar democrata que havia restaurado a dignidade de seu povo.
Neste lapso houve cinco guerras e dezessete golpes de Estado, e surgiu um ditador luciferino que em nome de Deus leva adiante o primeiro etnocídio da América Latina em nosso tempo. Enquanto isso, 20 milhões de crianças latino-americanas morreram antes de fazer dois anos, mais do que todas as crianças que nasceram na Europa Ocidental desde 1970. Os desaparecidos pela repressão somam quase 120 mil: é como se hoje ninguém soubesse onde estão os habitantes da cidade de Upsala. Numerosas mulheres presas grávidas deram à luz em cárceres argentinos, mas ainda se ignora o paradeiro de seus filhos, que foram dados em adoção clandestina ou internados em orfanatos pelas autoridades militares. Por não querer que as coisas continuem assim, morreram cerca de duzentas mil mulheres e homens em todo o continente, e mais de cem mil pereceram em três pequenos e voluntários países da América Central – Nicarágua, El Salvador e Guatemala. Se fosse nos Estados Unidos, a cifra proporcional seria de um milhão e 600 mil mortes violentas em quatro anos.

Do Chile, país de tradições hospitaleiras, fugiram um milhão de pessoas: dez por cento de sua população. O Uruguai, uma nação minúscula de dois milhões e meio de habitantes e que era considerado o país mais civilizado do continente, perdeu no desterro um a cada cinco cidadãos. A guerra civil em El Salvador produziu, desde 1979, quase um refugiado a cada 20 minutos. O país que poderia ser feito com todos os exilados e emigrados forçados da América Latina teria uma população mais numerosa que a da Noruega.

Eu me atrevo a pensar esta realidade descomunal, e não só a sua expressão literária, que este ano mereceu a atenção da Academia Sueca de Letras. Uma realidade que não é a do papel, mas que vive conosco e determina cada instante de nossas incontáveis mortes cotidianas, e que sustenta um manancial de criação insaciável, pleno de desdita e de beleza, e do qual este colombiano errante e nostálgico não passa de uma cifra assinalada pela sorte. Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e malandros, todos nós, criaturas daquela realidade desaforada, tivemos que pedir muito pouco à imaginação, porque para nós o maior desafio foi a insuficiência dos recursos convencionais para tornar nossa vida acreditável. Este é, amigos, o nó da nossa solidão.

Pois se estas dificuldades nos deixam – nós, que somos da sua essência – atordoados, não é difícil entender que os talentos racionais deste lado do mundo, extasiados na contemplação de suas próprias culturas, tenham ficado sem um método válido para nos interpretar. É compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que se medem, sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos, e que a busca da identidade própria é tão árdua e sangrenta para nós como foi para eles. A interpretação da nossa realidade a partir de esquemas alheios só contribuiu para tornar-nos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários. Talvez a Europa venerável fosse mais compreensiva se tratasse de nos ver em seu próprio passado. Se recordasse que Londres precisou de trezentos anos para construir a sua primeira muralha e de outros trezentos para ter um bispo, que Roma se debateu nas trevas da incerteza durante vinte séculos até que um rei etrusco a implantasse na história, e que em pleno século XVI os pacíficos suíços de hoje, que nos deleitam com seus queijos mansos e seus relógios impávidos, ensanguentaram a Europa com seus mercenários. Ainda no apogeu do Renascimento, ainda doze mil lansquenetes a soldo dos exércitos imperiais saquearam e devastaram Roma, e passaram na faca oito mil de seus habitantes.
Não pretendo encarnar as ilusões de Tonio Kröger, cujos sonhos de união entre um norte gasto e um sul apaixonado Thomas Mann exaltava há 53 anos neste mesmo lugar. Mas creio que os europeus de espírito esclarecedor, os que também aqui lutam por uma pátria grande mais humana e mais justa, poderiam ajudar-nos melhor se revisassem a fundo a sua maneira de nos ver. A solidariedade com os nossos sonhos não nos fará sentir menos solitários enquanto não se concretize com atos de respaldo legítimo aos povos que assumem a ilusão de ter uma vida própria na divisão do mundo.

A América Latina não quer e nem tem porque ser um peão sem rumo ou decisão, nem tem nada de quimérico para que seus desígnios de independência e originalidade se convertam em uma aspiração ocidental.

Não obstante, os progressos da navegação que reduziram tanto as distâncias entre nossas Américas e a Europa parecem haver aumentado nossa distância cultural. Por que a originalidade que é admitida sem reservas em nossa literatura nos é negada com todo tipo de desconfiança em nossas tentativas difíceis de mudança social? Por que pensar que a justiça social que os europeus desenvolvidos tratam de impor em seus países não pode ser também um objetivo latino-americano, com métodos distintos e em condições diferentes? Não: a violência e a dor desmedida da nossa história são o resultado de injustiças seculares e amarguras sem conta, e não uma confabulação urdida a três mil léguas da nossa casa. Mas muitos dirigentes e pensadores europeus acreditaram nisso, com o infantilismo dos avós que esqueceram as loucuras frutíferas de sua juventude, como se não fosse possível outro destino além de viver à mercê dos dois grandes donos do mundo. Este é, amigos, o tamanho da nossa solidão.

E ainda assim, diante da opressão, do saqueio e do abandono, nossa resposta é a vida. Nem os dilúvios, nem as pestes, nem a fome, nem os cataclismos, nem mesmo as guerras eternas através dos séculos e séculos conseguiram reduzir a vantagem tenaz da vida sobre a morte. Uma vantagem que aumenta e se acelera: a cada ano há 74 milhões de nascimentos a mais que mortes, uma quantidade de novos vivos suficiente para aumentar sete vezes, anualmente, a população de Nova York. A maioria deles nasce nos países com menos recursos, e entre eles, é claro, os da América Latina. Enquanto isso, os países mais prósperos conseguiram acumular um poder de destruição suficiente para aniquilar cem vezes não apenas todos os seres humanos que existiram até hoje, mas a totalidade de seres vivos que passaram por esse planeta de infortúnios.

Num dia como o de hoje, meu mestre William Faulkner disse neste mesmo lugar: “Eu me nego a admitir o fim do homem”. Não me sentiria digno de ocupar este lugar que foi dele se não tivesse a consciência plena de que pela primeira vez desde as origens da humanidade, o desastre colossal que ele se negava a admitir há 32 anos é, hoje, nada mais que uma simples possibilidade científica. Diante desta realidade assombrosa, que através de todo o tempo humano deve ter parecido uma utopia, nós, os inventores de fábulas que acreditamos em tudo, nós sentimos no direito de acreditar que ainda não é demasiado tarde para nos lançarmos na criação da utopia contrária. Uma nova arrasadora utopia da vida, onde ninguém possa decidir pelos outros até mesmo a forma de morrer, onde de verdade seja certo o amor e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham, enfim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra[...]Em cada linha que escrevo trato sempre, com maior ou menor fortuna, de invocar os espíritos esquivos da poesia, e trato de deixar em cada palavra o testemunho de minha devoção pelas suas virtudes de adivinhação e pela sua permanente vitória contra os surdos poderes da morte. Entendo que o prêmio que acabo de receber, com toda humildade, é a consoladora revelação de que meu intento não foi em vão. É por isso que convido todos a brindar por aquilo que um grande poeta das nossas Américas, Luis Cardoza y Aragón, definiu como a única prova concreta da existência do homem: a poesia."
Gabriel García Márquez
Em: A solidão da América Latina

domingo, 10 de março de 2019

Permita-me



Permita-me amá-lo. Pode ser de longe. Assim como está, só dizendo teu nome baixinho, ouvindo uma notícia ou outra por descuido dos teus amigos. Permita-me a esperança paciente de abraçá-lo novamente. Deixe que eu leia e releia nossas antigas conversas, revisite as fotos. Permita-me a dor e o prazer das lembranças. Deixe minha memória trazê-lo até mim em sonho. Só de vez em quando. Só me restou o luto, os escombros sobre os quais tento, todos os dias, me reconstruir. Sou eu em pedaços no chão. Permita-me, vez ou outra, permanecer imersa nas memórias.


Isabela Moraes

15/11/18


"Now I will tell you what I've done for you
fifty thousand tears I've cried
Screaming deceiving and bleeding for you
And you still won't hear me
I'm going under"
Evanescence - Going Under

terça-feira, 4 de julho de 2017

Sua despedida


Demorei pra perceber que era sonho. Demorei pra entender que era, também, real. Acho que, em algum universo paralelo aquela conversa aconteceu de verdade. Eu disse “oi” e você respondeu com aquele “oii” seguido de um sorriso bobo. Fui tomada pela surpresa, no meu mundo estou acostumada à tristeza de você nunca responder e já até parei de tentar. Mas não ali, naquele sonho você foi sincero e deu-me conforto. Esqueci as palavras, mas você queria que eu entendesse que já é tempo de perdão e de esquecer os ressentimentos. Chegou o tempo que eu tanto esperava, que vai me libertar. Por fim, você beijou minha testa e disse “adeus”. Não realizei o sonho, mas o sonho me realizou um desejo. Hoje eu me despeço das lembranças.Adeus você.

Isabela Moraes
04/07/2017


"I'm breaking free from these memories
Gotta let it go, just let it go
I've said goodbye set it all on fire
Gotta let it go, just let it go"
Let Me Go Avril Lavigne(Feat. Chad Kroeger)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

De Mala Pronta


Fiz minha mala numa tarde de domingo, quando você demorou demais para voltar pra mim. Jurei não voltar pra você, não olhei pra trás quando deixei o bilhete no armário, doeu fechar a porta do quarto vazio, deixei a cama arrumada e prometi nunca mais bagunçar aqueles lençóis. não senti nada ao subir naquele ônibus, mas chorei como uma criança ao ver morrer o sonho de ter um filho com seus olhos. O que você estava fazendo quando não estava nos meus braços?  Eu vou voltar pra casa e nunca voltar pra você. 
Sobre 04/12/16
Isabela C Moraes
09/12/16

"Quem procurar não vai me achar
Já encontrei o meu lugar
É triste, por ser longe de você
É triste, por eu não saber voltar pra casa e ver...

Que tudo que eu deixei pra trás
As cartas em cima da mesa..."
Contas Vencidas - Fresno

quinta-feira, 2 de março de 2017

Veneno

Eu amei alguém tóxico. Talvez tenha sido recíproco e eu tenha sido tóxica também, mas sei que amei. E nunca soube se fui amada. Tenho apenas lembranças, boas e ruins, se é que isso existe, são lembranças. Eu já amei  alguém tóxico. Eu não me arrependo. Amei intensamente em cada briga. E amei em cada passeio de mãos dadas. Amei quando chorava seus exageros . amei sorrir com suas declarações. Amei quando me acusava. Amei aqueles olhares de pedidos de desculpas. Amei os olhares de recrminação. Amei o sim e amei o não. Eu amei deitar-me ao lado de uma pessoa sem saber se ela iria me querer ali na manhã seguinte. Amei fazer amor até de madrugada. Eu amei esperar desesperada por uma ligação depois dos rompantes que soavam como términos. Eu amei pensar que “dar um tempo” tornava a relação mais forte. Eu amei os beijos apaixonados. Eu amei me convencer de que os rompimentos eram obstáculos e que voltar era superação. Eu amei a ansiedade que me corroía nas noites em que não me ligava. Eu amei as ligações arrependidas que me interrompiam o sono. Amei as promessas sussurradas. Amei as críticas exaltadas. amei os belos desenhos. amei a rasura dolorosa que deixou em mim. Eu amei alguém tóxico. Talvez eu não consiga desintoxicar.

Isabela C Moraes
02/03/17

"All I'll can ever be to you
Is a darkness that we know,
And this regret I got accustomed to.
Once it was so right
When we were at our high,
Waiting for you in the hotel at night.
I knew I hadn't met my match,
But every moment we could snatch,
I don't know why I got so attached.
It's my responsibility,
And you don't owe nothing to me,
But to walk away I have no capacity."

Tears Dry On Their Own - Amy Winehouse

segunda-feira, 7 de março de 2016

cinzas

Tão entorpecida, tão perdida, vagando pelos corredores, colecionado amores passageiros para aliviar a dor que não passa. Tropeça e cai, ergue-se e vai, deixa tudo para trás, não deixa nada, leva o futuro e não se desfaz do passado. Vive morrendo de amor, arde de paixão sem sentir coisa alguma. Grita pro vento e faz-se ouvir no silêncio, cala-se cheia de verdades e cobre-se de mentiras. Não vem aqui nem fica lá, deixa claro de início que o fim é obscuro e não conte com ela para sair do fundo do poço, sua bondade é por demais cruel com quem lhe afaga, cheia de espinhos com quem lhe trai. Está agora de joelhos, implorando distância e solidão para se reconstruir e, cercada de angústias, se refazer.
Isabela C Moraes
08/01/2016
"I cheated myself
Like I knew I would
I told you, I was trouble"
You know that I'm no good"Good - Amy Winehouse

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Porto

Há um cais do porto em mim, enferrujado, feito de chegadas e partidas, feito da espera por um grande amor, feito dos encontros eternizados em abraços cheios de saudades, há âncoras esquecidas e há correntes quebradas o no fundo da límpida e salgada água onde molho os pés enquanto choro, há um sorriso que o dourado pôr do sol desperta, há lembrança e esquecimento de quem certo dia atracou, de quem se despediu ao amanhecer, e foi com a maré, há um coração  inocente  entregue ao mais leviano marinheiro, há um pouco de mim e um tanto de você, há amor e há também abandono, há noivos em núpcias e há viúvas de guerra, há presença e também há falta, há vida e há morte, há desespero e há também esperança. Ah, amor, não sabes o quanto te esperei, sob chuva e sob sol, encarando o vento salgado que me cegou e endureceu meu coração. Ah, amor, há Amor e é teu, ancore aqui e me beije até enferrujar, fique e faça em mim tua casa.

14/12/15
Isabela C Moraes

"Come with me

My love
To the sea
The sea of love
I want to tell you
how much
I love you"
Cat Power - Sea of Love

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

último ato


Com a tua fuga eu vi o vazio. Estava tão submersa em nós que não sabia mais ser eu. Notei que todos os lugares eram teus, a plateia, a crítica, a iluminação, só contracenava com você, atuava somente no teu palco, era somente você por trás das cortinas quando o show acabava. E depois de tudo ainda era só você na minha vida.
Tive medo, você voltou disposto a consertar tudo, a rever os ensaios e corrigir as falas desencontradas, refazer as marcações de cena. Mas o temor do vazio ainda me perseguia, a qualquer momento você poderia voltar atrás, me deixar monologando para as poltronas, no escuro. Eu fiz novas audições, vendi ingressos, ainda guardei o teu lugar, mas nosso show acabou.

Isabela Moraes
12/10/15

"Pro tanto que eu te queria o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei
Rescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história confessa"

a Noite - Tiê

Escolha

Não fomos feitos um para o outro. Disso estou certa, apesar de já ter pensado na possibilidade, hoje sei que não. Também estou c...