
Ah, se tu soubesses que meus olhos ficam vendo no escuro teus olhos pequenos e negros como duas jabuticabas. Nesses momentos me esqueço de quando eles se tornam tão intimidadores sob tuas sobrancelhas arqueadas, assumindo formas confusas, ora de exclamação assustadora, ora de interrogação opressora. Fico vendo teus cabelos soltos, caindo sobre teu rosto miúdo. Vejo a ti, pequena. Toda vez que me deito em minha cama vazia e fria. Passo noites procurando qualquer coisa mais viva que teu sorriso. E não acho. Despacho-te pra longe de mim. Passa sábado, domingo, segunda, terça. Quarta acordo cedo, visto o uniforme rápido, tomo café, encosto a cabeça na janela do ônibus, penso nisso e naquilo, chego à escola, sento no banco, nove e pouca, lá vem você. Falas, escuto. Reclamas, calo. Falo pouco e tu comentas. Persuade-me, eu observo apenas, assumindo minha posição de estátua que está ali apenas para absorver cada sopro quente que sai de tua boca rápida e inquieta. Teus dedos brincam com teus cabelos, numa dança inconsciente e doce. Tuas mãos percorrem mil e um caminhos e voltam a descansar sobre tuas coxas. Tua boca brinca, certas vezes, de pique-pega com minha nuca. Eu finjo não notar, e nego até a morte que queira conceder a minha boca alguma dessas brincadeiras. E continuo a impedir que faça seja lá o que pretendes (ou tentas) fazer. Entro numa dança constante com tuas palavras, ações, teus jogos. Coloco em jogo minhas emoções mais cruas, meus sentimentos mais primitivos, e com a convivência, amadureço minhas idéias. E depois de refletir sobre meus erros, meus acertos, seus conselhos, nossas conversas de quarta-feira, e tudo mais, escrevo, sem titubear, esta ode a ti e ao teu cabelo vermelho-desbotado.
Isabela Moraes
06/10/2010
para minha aresta favorita.
obrigada pela paciência.
Ode:
ResponderExcluir1. Ant. Poesia própria para canto.
2. Composição poética, laudativa ou amorosa, dividida em estrofes simétricas.
Jogos? AHAHAH amei.