sexta-feira, 15 de julho de 2011

Desespero

Deitada no sofá, café esfriando na xícara, cabeça fervendo na almofada, olhos transbordando, boca ressecando. Murmurava esporadicamente palavras de resignação.
Não queria mais lutar aquela guerra. Não queria mais enfrentar os problemas que nunca paravam de surgir. Queria voltar atrás. Não ter mais que medir palavras, calcular o que podia ou não podia, devia ou não devia. Não queria mais se arrepender das coisas que falava. Não queria mais se aborrecer com os delitos insignificantes que cometia no dia-a-dia, e que sempre explodiam como uma bomba sobre a sua cabeça. Não queria mais sentir aquele incômodo, aquela vontade de vomitar cada vez que se sentia sem saída e se via forçada a entrar em briguinhas que só faziam mal. Não queria mais se sentir como um bicho acuado cada vez que seu passado era o tema da conversa.
Queria a liberdade sair pela rua, sem telefone, sem destino. E não magoar nem aborrecer ninguém com isso. Queria os problemas longe, e não queria ser problema para ninguém. Queria sentir todo o tempo, a paz de espírito que sentira quando adormecera cansada e quieta.  Queria a comunicação pele com pele e não grito com grito. Queria abolir as palavras ásperas e a brutalidade e as grosserias.
Afundava lentamente nos devaneios do choro compulsivo que tomara conta dela. Esperava que o desespero a fizesse esquecer. Não queria mais sentir saudade. Mas ainda o amava tanto que não era capaz de escolher dar fim àquilo. Havia se permitido criar raiz. E raízes tão mais fortes que os laços aos quais estava acostumada. Agora, queria cortar-se até não sobrar nada, até secar, esturricada pelo sol. Mas ainda queria ficar ali. Porque não poderia nunca mais deixá-lo. Amava-o, desesperadamente. Por isso, a cada briga sofria, desesperadamente.

Isabela Moraes
15/07/2011

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