Vou confessar. Às vezes tenho vontade de matar a minha mãe. Mas a verdade é que morreria por ela.
Ela desfaz o que eu faço, reclama que não sei fazer do jeito dela e faz pouco dos meus esforços pra agradá-la. E quando é o contrário, joga na cara que não dou valor ao trabalho dela. Isso é que é o pior. Ela joga na cara. Tudo que naturalmente não me faz bem, ela tem o prazer de usar pra me torturar. Não sei se é de propósito. Os meus erros, minhas falhas, meus desvios de conduta, minha preguiça, meu desleixo. Até a minha falta de habilidade e compromisso com os serviços domésticos vira motivo pra me chicotear com a língua.
Dói. Mas tem sido uma dor que força o amadurecimento. O que dói mais é escutá-la dizer que não vai pedir ajuda nunca. Que o orgulho é maior que o cansaço. E o que dói mais quando escuto isso é saber que sou igual a ela, e caminho para me tornar o sargento que ela é.
Não quero alimentar as mesmas manias que hoje me incomodam. Não quero jogar nada na cara de ninguém. Mas, sem perceber, é isso que eu faço. E ainda me engano, minto pra mim mesma que não é isso que estou fazendo, que não é nela que estou me transformando.
Mas lá no fundo, eu acho que estou me tornando a minha mãe por causa da minha mania de me preparar para as situações difíceis. Estou me transformando nela pro caso de precisar dela e qualquer coisa impedi-la de estar lá pra mim, assim não me decepcionarei. Tendo-a em mim, ela estará pronta a atender a minha necessidade de alguém que jogue na minha cara os meus erros e defeitos.
Lá no fundo, acho que já me acostumei e acabei por criar essa dependência. Talvez sem a tortura, eu não me desse conta das besteiras que faço. Então, estou aprendendo a fazer isso sozinha. Pra não ter que pedir opinião quando achar que fiz algo errado. Não precisar de ajuda.
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